Tudo que havia antes continua lá. Debaixo dessa névoa. O que Selena precisa descobrir é como se vive sobre o lago que se pôs sobre a cidade. O boato de outros tempos se comprovava. Até quando? Esta é a melhor pergunta que lhe ocorre. Até agora resiste. E depois? Depois que começou a chover seu espírito se abalara novamente. Passou uma vez, passará, e de novo e de novo. Selena vai aprendendo a lidar com as emoções. O pior já passou. Agora, a superfície plácida segue refletindo sua imagem misturada às nuvens e o céu azul. Pode ser que não chova mais. Não mais até amanhã. E tudo que se pode ver de onde Selena está. Subiu no alto mais alto. O prédio mais abominável de sua cidade. Verrugas de um tempo estranho. Por acaso, estava num Catamarã. E quando tudo começou, pode se abrigar por lá. O espelho d’água que devorou a cidade é uma plácida superfície onde agora Selena se olha sem o mesmo medo. Antes disso, as pessoas moravam em conchas-bolhas. Era dada uma crise de proporções incalculáveis. Um vírus vitimando pessoas. Elas não frequentavam mais parques e outros lugares ensolarados, a exemplo de antes. Não andavam mais em suas bicicletas. Ou marcavam encontros na parte mais antiga da cidade. Bem antes, era diferente.