Laura Regina Gouvea é uma autora habilidosa, capaz de construir metáforas que adentram o íntimo de qualquer leitor. É inevitável não se comover com a busca de Quirino por um morador para seu telhado. São tantas descobertas no caminho desse jovem apresentado pela autora, que nos perdemos entre Quirino e nós mesmos. Aprendemos junto a ele que é necessário arrumar a casa, mas não é o suficiente para um hóspede, um novo morador. Alguns laços precisam de tempo, que, aliás, é a grande personagem oculta dessa história. Sem o tempo Quirino jamais teria chegado a sua maior descoberta. Aliadas ao tempo, temos as experiências vividas pelo personagem: os sabores, os sons, os sorrisos, as amizades, as trocas, as descobertas, até o aprender a lidar com a tristeza. A cada descoberta de Quirino, vamos desvendando um pouco de nós mesmos. Em Moradia, a cidade da história, aprendemos a diferença entre casa e lar. Dificilmente terminamos a leitura do texto da mesma forma que começamos. Nessa sucessão de delicadezas que nos são apresentadas pelo narrador, avaliamos em nós em qual estágio da busca de Quirino estamos.