Que se vive em uma sociedade ainda conservadora, ninguém duvida. Marcada pela glorificação de um machismo estrutural, tem como reverso da moeda a sacralização da maternidade. Este inaceitável paradoxo leva à crença de que os filhos são propriedade da mãe. E, quando da separação do casal, se naturalizou que eles têm que permanecer no lar materno, como se fosse exclusivamente da genitora o dever de cuidar, de educar. Os pais só precisam pagar alimentos e visitá-los de quando em vez. No entanto, o evoluir das ciências psicossociais, descortinou realidades outras, como a indispensabilidade da convivência paterno-filial, para que crianças e adolescentes possam ter um desenvolvimento emocional saudável. Quando a interdisciplinaridade acabou por colorir as demandas judiciais, surgiu a esperança de que se estava construindo um novo direito. Utilizando todo um arcabouço probatório subsidiado por perícias e estudos sociais, os juízes passariam a olhar as partes como sujeitos dotados de sentimentos, de vontade, e buscariam soluções de modo a atender as justas expectativas dos envolvidos. Daí a importância desta obra, que traça a trajetória da inserção da interdisciplinaridade como ferramenta indispensável para o deslinde das controvérsias que abordam aspectos de ordem emocional nos conflitos familiares envolvendo crianças e adolescentes. Precioso o trabalho de Jovane Meierhoefer Nikolic, estudioso incansável, que realizou minuciosa pesquisa, abrangendo o período de 40 anos, sobre os mecanismos que visam resguardar a vulnerabilidade juvenil nas ações envolvendo disputa de guarda entre os genitores. Nesta empreitada, em um primeiro momento, o autor traz um relato chocante, de uma ação em que se disputava o regime de convivência do filho, com denúncia de alienação parental e abuso sexual. Da narrativa ficou evidenciado o desprestígio da prova psicológica, sistematicamente rejeitada, e as consequências traumáticas relatadas pelo filho ao atingir a fase adulta. Traçada a evolução l