Em Antiroad, Álvaro Senra traça um percurso íntimo e implacável pelas estradas e abismos do Brasil e da própria existência. Nesta novela curta, o autor nos conduz pelas viagens solitárias do narrador no final de 2018, período marcado por um país dividido e por um clima tenso na política e na sociedade. Fugindo do turbilhão de notícias e da desilusão com os rumos traçados pelas eleições recentes, o narrador se lança ao volante em busca de isolamento, mas encontra pelo caminho um Brasil real, áspero e muitas vezes hostil. As paisagens que se descortinam não são apenas físicas, mas simbólicas: cada cidade, cada parada, cada desvio carrega o peso de um país que parece se desmantelar sob o olhar atento e desiludido de quem o percorre. O calor sufocante, as estradas sinuosas, os acidentes e a monotonia das rodovias se tornam metáforas para a angústia de um presente incerto e de um futuro que se anuncia sombrio. Com uma escrita densa e reflexiva, Senra narra encontros e desencontros com o país e consigo mesmo. O silêncio do rádio desligado, a decisão de evitar o contato com outros, o desejo de fugir das notícias e das interações humanas revelam um narrador que busca compreender a derrota – não apenas a política, mas também a pessoal, existencial. Em suas paradas, ele observa com minúcia o desgaste das cidades, a brutalidade das paisagens urbanas e o desencanto das pequenas histórias que atravessam seu caminho.