Este livro é uma preciosidade. Contém os primeiros contos do jovem Cortázar, que já em 1951 se mostrava um narrador extraordinário. Para Davi Arrigucci Jr., a admirável arte do Julio Cortázar contista já está toda aqui. A perfeita naturalidade com que seu mundo cotidiano sofre a ruptura abrupta do fantástico vem vazada em prosa displicente na aparência, mas de implacável precisão em cada palavra , escreve o crítico. O gosto por animais insólitos desponta onde menos se espera, caso do clássico Carta a uma senhorita em Paris , em que a narradora em determinado momento passa a vomitar coelhinhos. Ou em Bestiário , em que uma casa de férias é cercada por um tigre. O narrador aqui parece sempre guiado por um senso raro dos encontros fora de hora ou de lugar, descobrindo brechas insuspeitadas no cotidiano mais banal. Em Ônibus , uma singela viagem na linha 168 se torna um assustador percurso pelas ruas de Buenos Aires. Em Casa tomada , dois irmãos vivem sozinhos em uma grande propriedade em Buenos Aires. A rotina deles é tranquila até a casa ser invadida por algo ou alguém misterioso. Repleto de liberdade e risco, um livro sem igual. Ler e reler Cortázar é o convite maior que este Bestiário propõe. - Laura Janina Hosiasson