Catiços da madrugada - Sobre as agonias da masculinidade negra

Quando recebi o convite de Luis Ferrara, relutei, não queria avaliar um texto literário de um jovem autor com quem estabeleço parcerias de trabalho e amizade. Afinal, seria inevitável após uma leitura, julgar e fazer uma certa crítica literária. Mas, quando comecei a ler, percebi que se tratava de um daqueles exercícios para leitor e não, crítico. Contos curtos, poemas e um tipo de insatisfação pujante que parece fazê-lo propor uma catarse política. Um daqueles livros que tomamos num fim de semana, que se lê em poucas horas e provoca-nos a entrar no turbilhão de sentimentos. Eu li e recordei de meados da década de 1990, especificamente o ano de 1994. Na época, Luis era um bebê de dois anos e eu estava concluindo a graduação e fazendo a prova para entrar no mestrado. Os 20 anos de diferença entre nós (Luis nasceu em 1992 e eu, 1972) , trouxe-me à memória uma pergunta que respondi durante minha jornada na oficina de criação literária na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) em 1994. Eu tenho a impressão que nesse momento que esta obra está vindo às ruas, eu próximo dos 50 anos e Luis perto dos 30, que ele responde pela paixão por escrever de modo muito parecido como eu respondia aos 22 anos em outubro de 1994. Eu escrevo porque tenho muita coisa transbordando de dentro. Eu percebi que isso marca Catiços da madrugada. Aqui, vocês encontram um autor com ressacas poéticas e ideias que habitam seus sonhos naquelas madrugadas boêmias de quem insiste em brigar com o sono. Renato Noguera. Ensaísta e professor da UFRRJ.