Em sua maioria, eles são pretos ou pardos, trabalhadores formais ou informais, muitos são agricultores – que, neste caso, plantam para sobreviver. Distribuem-se pelas pequenas casas de um povoado, que é alçado à condição de cidade em meados do século XX, contudo ainda carente de muitos recursos. A estação ferroviária, até a extinção do transporte de passageiros por meio de trens, constituiu o centro disseminador da vida econômica, social (por vezes, até política) do local. Em torno da estação férrea, distribui-se um grande número de personagens folclóricos, homens e mulheres comuns, mas que, por alguma característica, chamavam a atenção. O mais conhecido ou lembrado, falecido em 1963, é Gomercindo Carapau, restou-lhe o prenome e a alcunha que o povo lhe deu, mas abundam histórias pitorescas. O córrego, ou sanga como se diz no Rio Grande do Sul, é também um espaço privilegiado. Em 1885, quando a linha férrea passou pela região, às suas margens foi erguida uma caixa d’água para o abastecimento dos trens a vapor, depois, veio a estação e, finalmente, a sede do atual município. Na sanga, as mulheres lavavam roupas; da sanga, vinha parte do fornecimento da energia elétrica, que não ultrapassava o limite de 21h, antes da emancipação; na sanga, a meninada pescava lambaris e outros peixes maiores que a poluição exterminou e, na mesma sanga, em tempos idos, os banhos eram garantidos. Sem muitas diversões, num tempo passado, a natureza como um todo ou a construção de uma nova residência ensejavam alegria. As flores de corticeiras faziam “navegar” as afamadas “marrequinhas” (as flores das corticeiras, vermelhas, assemelham-se ao pequeno animal e promoveram a comparação) nas águas da sanga; um bandoneon e um “rancho” (construção rústica que poderia servir como morada) eram o suficiente para um fandango, mesmo em meio a poeira. As histórias de família, os enfrentamentos das adversidades também se mesclam nos relatos das crônicas aqui apresentadas: cortar lenha nos matos, arrancar raízes, preparar a terra; tratar vacas leiteiras, extrair-lhe o leite quentinho; alimentar galinhas, “colher” ovos; preparar hortas, alimentos naturais postos à mesa; reunir-se à noite para longas conversas, existir na simplicidade são ações traçadas que vão e vêm, que fixam tempos, um lugar, quiçá, uma identidade. Registros de terra e de gentes para que nossos pósteros tenham, pelo menos, formas de saber, conhecer o que fomos e como pavimentamos caminhos para que eles seguissem em frente