A Experiência Da Gestação Do Corpo Em Mutação Vivido Desde Dentro Desde Seus Mínimos Estalos E Grandes Mergulhos Esse Tema Tão Intrinsecamente Feminino E Universal Não Está Entretanto Muito Presente Na Literatura Brasileira Ou Se Está Raramente Se Apresenta Com A Delicada Violência Que Nos Oferta A Poeta Mônica De Aquino No Livro Continuar A Nascer Uma Terna Violência Se Assim Podemos Definila Pelo Que Há De Mais Intenso Na Experiência Transformadora E Irreversível Que É A De Dar A Vida Existe Algo De Iluminado E Violento Ao Mesmo Tempo Nesse Brotar De Um Sentimento Que Faz Com Que O Sujeito Se Desprenda De Si Para Desdobrarse Quase Que Inteiramente No Cuidado Com O Outro Um Ser Em Formação Ainda Despido De Linguagem E De Apego No Mesmo Instante Em Que O Corpo Parece Partirse E De Alguma Forma Perder Sua Metade Já Desabitado Tanto O Da Mãe Quanto O Do Bebê São Subitamente Lançados Após O Parto Numa Estranha Orfandade Num Estado De Abandono Mesmo Que Transitório
Os Versos De Mônica Revelam Junto De Toda A Beleza Que Há Algo Assombroso Nesse Nascer De Um Coração Minúsculo Dentro Do Corpo Onde Há Outro Coração Que Bate Todo Dia Bate O Espanto Da Espécie A Intuição Mais Cortante Que Antecede A Palavra Na Hora Do Nascimento Talvez Seja A De Que Cada Coração Precisa Aprender A Bater Dali Em Diante Numa Fração De Milésimo De Segundo Frágil E Rapidamente Como Asa De Libélula Na Solidão De Um Corpo Que O Acompanhará Pelo Resto Da Caminhada