“Estes contos são, de fato, manhosos. A primeira manha é que o protagonista, aqui, é a linguagem. Isso porque o autor elaborou exaustivamente os seus textos, até obter uma prosa de alta voltagem metafórica, cujo ritmo e cujo efeito sobre a imaginação do leitor são de uma originalidade rara nos dias de hoje. Outra manha está no que não é dito: nessas histórias urbanas, o autor faz sempre um recorte de cenas prosaicas do dia-a-dia, oferendo-nos fatias de vida (como queriam Tchekhov e Joyce) que sugerem, mais do que expõem, universos ricos a partir de experiências aparentemente banais. As narrativas são de uma densidade que levam o leitor a relê-las, com o intuito de “abrir” mais as imagens condensadas nos textos, como na melhor poesia. Pois só assim, com a participação ativa do leitor, irá clareando-se o caminho que vai do marisco à miséria, do vermelho ao verde — de uma camada a outra destes contos manhosos e inesgotáveis.” Marcos Pamplona – Editor