A pergunta “Tudo é verdadeiro e correto, não é?”, da qual se podem extrair consequências bastante distintas, estabeleceu uma das balizas pelas quais Sigmund Freud se orientou ao escutar o que suas e seus pacientes lhe diziam acerca do sofrimento que experimentavam e da condição em que se viam. Como toda pergunta, decorre do húmus em que as palavras recebidas de outros convivem e voltam a germinar, uma vez mais, até serem faladas, de maneira singular, por cada uma e um de nós. À psicanálise, surgida como um modo inédito de tratamento pela fala do que não vai bem com os humanos, cabe a tarefa, exercida cotidianamente pelas e pelos psicanalistas, de permitir que essas palavras, a um só tempo coletivas e únicas, se enlacem às circunstâncias da época em que são proferidas, as quais, hoje, por certo não se ajustam mais aos eixos em que o mundo se alinhava no alvor do século passado. Os 12 textos aqui reunidos dão notícias de como docentes e discentes do Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a ajuda de colegas de várias instituições com quem mantêm intercâmbios, vêm elaborando a tensão inerente à convivência entre a clínica psicanalítica e a insistência da psicanálise na contemporaneidade, ainda e sempre entrelaçada ao mal-estar próprio às relações culturais, sociais, políticas e econômicas. Trata-se, assim, de contribuições que não se furtam a considerar questões concernentes tanto a raça e a gênero quanto à existência periférica do Brasil, marcada por uma herança colonial acentuadamente autoritária e desigual, e não raro ainda demasiado insegura em apartar-se da influência do centro europeu em que a invenção freudiana se deu. Desse modo, os leitores podem servir-se de cuidadosas reflexões sobre diferentes modos de descentramento presentes na obra de Freud, os centros de produção e a produção de centros no exercício da psicanálise, as perspectivas feministas a respeito desse exercíci
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