Em vez de seguir “amanhecendo por hábito” como Argênide escreve no poema “trilha”, as vozes se multiplicam a cantar passado, presente e futuro em busca do prazer. É preciso, como um bicho, espreguiçar-se e seguir para a caçada, sem pensar muito, porque essa hora também chega. Animal-poeta afia as garras e escreve com elas na terra de todo dia, mas também nos espaços inexplorados, olhando para tudo ao redor, como se fosse a primeira vez. E não são, todas, primeiras vezes? Duas vidas é de mulher e também de bicho, de silêncio e deleite que se faz ouvir por todo o quarteirão. A poesia “resistindo ao inverno”. “Sigo sereia”, escreve Argênide. E mistério e bicho selvagem, eu diria, ainda.