a palavra: pessoa, árvore veronika paulics aproximar-se das palavras – noite, pássaro, mãe – como quem se aproxima de uma pessoa. no primeiro contato, uma foto quase imóvel, retrato três por quatro. que cresce e, pouco a pouco, ganha vida, ganha camadas futuras de histórias, sensações e memória de passados. um dia, a palavra, como um velho amigo, se torna um movimento dentro do tempo, se torna uma palavra no nosso tempo. e pensamos conhecê-la. aproximar-se das palavras, como quem se aproxima de uma árvore, e delicadamente identifica seus anéis, o registro de uma trajetória de longos invernos, outonos, as primaveras com seus vários tons, trabalhar a palavra é descobrir a seiva que a percorre e alimenta folhas, flores, nudez. é encontrar na palavra o sal, a tinta, reconhecê-la. a poesia de ricard martínez pinyol desvenda e recria o mistério de mil palavras que pensávamos conhecer. leva-nos para dentro de um país particular e nos apresenta as palavras agora preenchidas de novas memórias e sentidos. faz-nos transitar entre aquelas que falam de diferentes mundos. levados pela sua escrita, que tantas vezes parece mais pintura que poesia, mergulhamos na magia de descobrir palavras e desvendá-las, de revelá-las, de aprender e apreender os mistérios que se escondem em seus cantos, entre as sílabas e sons, e assim elas se expandem universo e cor. em éramos tão frágeis, «preservamos a aura da beleza nos estames das estampas, e nos maravilhamos ao mergulhar no coração despedaçado das pedras preciosas» onde pulsa a poesia, em suas palavras. Barcelona, 2022