Guinever

Estas são páginas de reencontro. Desde a primeira página, Guinevere tem um pouco de cada um de nós. Esqueça a dama distante, a personagem cuja silhueta cortesã os olhos da imaginação mal conseguem fisgar em uma história demasiado masculina. Pelas mãos de Bárbara Simões, recebemos a chance de acompanhar a rainha de perto, de partilhar a intimidade dessa sobrevivente indomável. E, quando nos deixamos guiar, encontramos um pouco de nós nessa mulher-nevoeiro de olhos castanhos inesquecíveis: sutilmente, Guinevere surge como espelho dalmas, refletindo a coragem dos solitários, a resiliência dos que perdem os seus, os amores concorrentes que nos cabem no peito, a sofreguidão silenciosa de quem encontra a fidelidade a si na traição ao outro. Mas estas também são páginas de descoberta. Percorremos a imensidão fantástica na Britânia de Camelot, uma terra de mundos partidos, em que os outrora poderosos romanos se tornavam passado, poeira dos séculos, e o novo assumia a feição ameaçadora dos sanguinolentos machados saxões. Por essa fenda do tempo, descobrimos as batalhas de Arthur e Lancelot, travadas em meio a hidromel, loucura, berros, sangue e deuses; a magia de Morgana e Merlin; as intrigas palacianas que, selando o destino da Dumnônia, fazem prender a respiração. Com uma narrativa intimista; entrelaçando, talentosamente, os diferentes tempos da vida de sua personagem, Bárbara Simões nos estende a chance de uma leitura envolvente, uma experiência de imersão na história de uma das mais famosas rainhas da literatura. Leandro Rust