Numa época em que políticos negam cinicamente o que alardearam ao vivo em pronunciamentos oficiais, e em que somos bombardeados diariamente por propagandas de ódio, notícias falsas bizarras e notícias verdadeiras ainda piores, o romance 1984, de George Orwell, ganha cada vez mais ressonância. A trama se passa em um superestado totalitário chamado Oceânia, onde imperam a vigilância onipresente e regras de conduta extremamente rígidas. Nele acompanhamos a rotina severa e os pensamentos cada vez mais divergentes de Winston Smith, funcionário do Ministério da Verdade. Apesar do nome de seu local de trabalho, Winston é responsável por falsificar artigos jornalísticos do passado para que eles sempre se encaixem com o maleável discurso corrente do partido que comanda esse superestado, representado pela figura mítica do Grande Irmão. A história da vida de Orwell talvez explique como sua obra converge até 1984. Nascido na Índia em 1903, como Eric Arthur Blair, ainda bebê ele se mudou para o interior da Inglaterra, que nessa época ainda era um império com colônias por todo o planeta. Orwell conheceu variadas facetas do imperialismo: estudou num colégio de elite inglês, perambulou sem dinheiro pelas ruas de Paris e de Londres, acompanhou trabalhadores em perigosas minas de carvão, exerceu a função de policial na Birmânia, enfrentou os fascistas na Guerra Civil Espanhola, onde quase morreu com um tiro na garganta, presenciou bombardeios dos nazistas na Segunda Guerra Mundial, e acima de tudo, foi um crítico ferrenho da sociedade de sua época. Tudo isso é mostrado com mais detalhes na graphic novel biográfica 1903: Orwell, publicada pela DarkSide Books, com roteiro de Pierre Christin e desenhos de Sébastien Verdier. Um retrato íntimo e definitivo de um dos maiores escritores de todos os tempos e o complemento perfeito para amplificar a experiência de leitura do clássico 1984, que também conta com ilustrações de Verdier. Embora escrito somente a partir de 1947, várias das id