Em idas e vindas, a autora mescla um narrador distante com anotações de Letícia e de sua tia-bisavó Dora, acompanhando a epopeia dos Almada desde o interior de Portugal até Petrópolis, onde José constrói sua fortuna, e o Rio de Janeiro, aonde seus descendentes vão se dispersando em meio à modernização do Brasil.
Lembranças familiares, passadas de geração a geração, compõem o romance, que aos poucos nos oferece um mosaico – e, com este, uma sofisticada reflexão sobre a natureza humana. A honra é uma virtude fora de moda? Vergonha, recato e pudor são sentimentos ridículos? Ao acompanhar a trajetória da família do imigrante português José Almada, ao longo de um século e meio, Ana Maria Machado discute essas questões e tece um delicado bordado com o fio da memória.
Assim, encontros e desencontros, gestos de profunda ternura e explosões de fúria, o conservadorismo e a rebeldia, a tolerância e a incompreensão, a generosidade e o egoísmo contrastam os diversos personagens sem que eles resvalem para o maniqueísmo: todos são profundamente humanos.
A pairar sobre tudo, porém, está o inquebrantável senso de honra de José, capaz de afetar netos e bisnetos. Mas é Letícia, trineta de José e uma das narradoras do romance, que parece perguntar se todo e qualquer sacrifício é válido em nome das grandes virtudes.