Desde que os seus primeiros poemas começaram a circular, Angélica Freitas tornou-se uma voz central das novas gerações, destacando-se pela forma perspicaz e irreverente como mixa referências eruditas e populares ? como no título de seu livro d e estreia, Rilke shake, de 2007 ? para falar de assuntos que costumam deixar os poetas sisudos. Nessas duas décadas de atividade, em que lançou o incontornável Um útero é do tamanho de um punho (2012) e Canções de atormentar (2020), os leitores estão sempre ansiosos para saber o que andam aprontando a criatividade e o humor agudo da poeta gaúcha ? e é exatamente isso que se encontra nas páginas de Mostra monstra. Retirados dos cadernos em que Freitas experimenta diariamente novos caminhos para s ua poesia, os desenhos e versos desta plaquete levam para passear num universo tomado por monstros não exatamente assustadores: pessoas de piche, um cão misterioso, “o cocô de rita hayworth”, “o fantasma das tuas calcinhas velhas”. No fundo, não é na da difícil simpatizar com esses monstros, porque eles são capazes de expandir, com um sorriso, o mundo em volta: “olhe nos meus olhos/ e diga a mentira// não quero saber/ da realidade, só/ da fantasia”. Mais do que apenas simpatizar com esses seres, os leitores de Angélica Freitas têm aqui a sensação de que estão entre conhecidos de longa data. Quando ela divide conosco seus cadernos, em que espontaneidade e precisão se combinam, as figuras que os versos projetavam na nossa imaginação ganham for ma e, mais do que desdobrar as consagradas palavras da poeta, conseguem dizer, de maneira igualmente brilhante, que rir talvez seja uma boa maneira de não se deixar engolir pelos (nossos) monstros. Marca: CIRCULO DE POEMAS