Essa forma de estar no mundo que Yuri e Maristela trazem é um manifesto em defesa da pluridiversidade epistêmica. Um texto autoral, contrahegemônico, que traz a afroperspectividade para a academia de forma contundente, nos faz ver o epistemicídio do silenciamento étnico, a sociologia das ausências, rompe com a oposição entre conhecimento escrito e oralidade, e nos brinda com um agenciamento coletivo de enunciação, com os recortes identitários muito apropriadamente nomeados de arquétipos comuns na população negra. A cartografia é mesmo uma invenção de si e do mundo, que permite a ampliação das perspectivas perceptivas. Nesse livro encontramos um cartógrafo na análise das músicas do Emicida com sua implicação explicitada nos diálogos entre o Yuri menino, Ciclone e Tânia. Cartografa movimentos de produção de subjetividade, tal qual no desenho que o cartógrafo faz da geografia do terreno, traz as dimensões da sua subjetividade presentes nos recortes identitários da música. Territorializa movimentos. Em sua pesquisa acessa o plano coletivo de forças. Nesse mundo competitivo, meritocrático, onde as individualidades são cada vez mais exaltadas, gritar pela força do coletivo, pela proteção do aquilombarse, pode ser uma forma de aumentar nossa imunidade em tempos tão sombrios. Resistir é preciso. Parabenizo pelo potente trabalho acadêmico. Maria Goretti Andrade Rodrigues