Uma obra sobre a infância da nossa poeta maior Cecília fora uma criança especial, pois teve de aprender a conviver com o efêmero. Desde muito pequena lidou com a ausência e fez da morte uma companheira com a qual ela tinha intimidade. "Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão". Seu pai morrera três meses antes de seu nascimento. Antes de completar três anos de idade, perdeu sua mãe. Criada pela avó, Jachinta Garcia Benevides, a menina, sempre muita atenta a tudo ao seu redor, foi dotada de uma imaginação criativa e lírica. Olhinhos de Gato foi revelado pela escritora como um exercício ficcional inspirado fortemente em seus tempos de criança. "O suspirar do vento matinal por aquela alta folhagem... E as mil coisas que começava a desenhar, sobre o céu transparente, o seu sussurrante suspiro: lua crescente, branca e sem luz, esquecida no ar da manhã... flocos de cores das nuvens, com fios de ouro pelo meio... giro dos pombos, para longe, para longe, como para dar volta ao mundo, arqueando as asas... [...] Os textos que compõem esta obra foram publicados pela primeira vez na revista Ocidente, de Lisboa entre os anos de 1939 e 1940. Foram os portugueses, portanto, os primeiros a conhecer estas saborosas e envolventes páginas em tom de confissão nas quais, Cecília, na forma de ficção, retoma personagens que povoaram a sua infância. Na verdade, as pessoas que conviveram com a menina Cecília aparecem neste livro com cognomes. Boquinha de Doce é a sua querida avó, Dentinho de Arroz é a ama que cuidou de Cecília e Olhinhos de Gato é uma referência à própria autora.