Olhos de vidro

A primeira coisa que vem à mente de quem percorre o início deste cativante romance policial é que sua agilidade o aproxima da linguagem do roteiro de uma série: o autor consegue com a descrição precisa da cena, com seus diálogos ágeis e mordazes, transportar o leitor para o centro dos acontecimentos. Esta característica da obra não é difícil de compreender. A vasta experiência profissional do autor como criminalista certamente alimenta a sua imaginação com improváveis fragmentos de casos envolvendo o mundo do crime. E é neste contexto que o leitor é convidado a desvendar o caso do serial killer mais temido da nata fluminense. Um homem meticuloso e provocador, que inicia uma contagem regressiva ao estampar na testa da primeira vítima o número de mortos que ainda pretende fazer. Seu modus operandi é igualmente perturbador: ele arranca um dos olhos das vítimas, substituindoo por um olho de vidro com inscrições enigmáticas em grego arcaico, que lentamente revelam uma trama sombria envolvendo figuras da elite carioca. Mas é sempre bom lembrar que, como, a certa altura, elucubra uma das personagens deste romance, o bem e o mal são as duas faces da mesma moeda e talvez não seja tão fácil distinguir heróis de vilões em um mundo onde cada verdade encobre uma camada mais profunda de segredos. Rodrigo Terra Procurador de Justiça do MPRJ
Marca: Transversal