Pelo olhar do naturalista e viajantes estrangeiros: Como negros e escravizados eram vistos no Brasil do século XIX

Com a vinda da Família Real para o Brasil em 1808, passou a ser permitido o ingresso de estrangeiros, promovendo em poucas décadas do século XIX o aporte de uma profusão de naturalistas estrangeiros e outros viajantes. Esses naturalistas deixaram vários registros na forma de cartas, relatórios, diários de viagem, memórias e livros nos quais estão relatos sobre as cidades e vilas, a população local, sua descrição ou visão sobre o sistema escravista ou sobre os negros. Os registros e relatos desses exploradores constituem hoje importante acervo de registros de informações e descrição sobre a escravidão no Brasil à época, com base na visão de mundo destes. Neste livro, reunimos narrativas e visões sobre os negros e o sistema escravista que tais viajantes escreveram em suas obras à época de sua estada. Seus relatos diferiam entre si em suas visões de mundo em termos da escravidão e dos negros escravizados ou não escravizados. Após cerca de duzentos anos das expedições naturalísticas e um século e meio da abolição da escravatura, ainda hoje, muitas daquelas visões que expressaram em suas obras no século XIX permanecem inseridas na sociedade brasileira. Há muito que se fazer para quebrar as barreiras do preconceito intrínseco e estruturalmente inserido na sociedade brasileira e que vêm desde o período colonial. A porção negra da população e precisa ser reconhecida como parte fundamental da história do Brasil e também como protagonistas dela, e não apenas como coadjuvantes. É preciso produzir novas narrativas a partir de visões que caram ocultas pelas grandes narrativas, dar voz aos sujeitos historicamente oprimidos e repensar a narrativa hegemônica que construiu e moldou a sociedade brasileira