Com sensibilidade aguçada, as narrativas de Nadija Tot nos conduzem a lugares e cidadezinhas tal como são vividos por seus habitantes: em suas frestas de arquitetura, nas rotinas marcadas pela esperança e pela desilusão, pelos destinos evitados ou simplesmente inevitáveis. Suas histórias revelam personagens feridos pela sorte, atravessados por afetos, silêncios e sobrevivências. Entre os contos, a figura recorrente de Nelson ora matuto em sua essência bruta, ora elegante e dissimulado encarna, com múltiplas máscaras, o homem comum e suas falhas mais brutais. É como se a autora, ao dar a ele o mesmo nome em diferentes histórias, nos dissesse que certos traços atravessam gerações, corpos e territórios: a violência, a covardia, a ausência. Nadija Tot afirmase aqui como uma notável contadora de histórias. Seus contos são profundamente brasileiros e, por isso mesmo, universais. Reais demais para serem utopia, belos demais para serem esquecidos. Mercedes Bragança é professora de português e inglês, escritora, poeta, artista plástica e mãe.